Subscription Overload

Over the last 5 years, there has been a major increase in subscriptions based companies that deliver a good or services straight to your home. I’m sure you have seen many ads on instagram/facebook…

Smartphone

独家优惠奖金 100% 高达 1 BTC + 180 免费旋转




turmalina negra

Lembro-me da minha infância. Dos passeios que fazia com a minha avó e mãe em São Tomé das Letras, uma cidadezinha do interior de minas. A cidade não dava nem 6.000 de habitantes direito, pelo menos não naquela época. Eu, com meus 8 anos de idade, no auge da curiosidade e do despertar da infância, obviamente achava aqueles passeios insuportáveis. Na verdade, nunca entendi direito o porquê de fazermos essa viagem todos os anos. Minha mãe dizia em segredo que era “promessa” da minha avó e pedia para eu não comentar com ela nem ninguém.

-Mas ela prometeu para quem? — eu dizia.

-Para Deus, filho.

Isso é outra coisa que nunca entendi direito. Deus. Por que nunca se revela? E por que falam tanto dele? “Ai meu Deus” “Fica com Deus”. Essas falas me deixavam muito incomodado, pois sempre procurava por Deus e nunca o encontrava. Até chegar à catequese e eu finalmente entender que Deus não é uma pessoa, é um conceito.

- Deus é amor! — a professora dizia — Deus é o pai. É o filho. Deus é o espírito santo! Repitam comigo: Deus está no meio de nós! — e eu repetia, um pouco confuso, mas ainda assim tentando enxergar o Deus do meio de nós.

Voltando ao tema principal, São Tomé das Letras. Não fazíamos nada lá. Em raras exceções íamos à cachoeira, que era o maior — e único- motivo da minha animação. Mas eram raras… Apenas ficávamos rodeando o centro da cidade, que se resumia a uma pracinha e alguns cachorros abandonados. O pessoal da pousada já nos conhecia, e nosso quarto já estava reservado para a mesma data todos os anos. Éramos previsíveis, assim como a cidade. Até o imprevisível ali se tornava previsível. Chata. Monótona. Péssima para um menino de 8 anos que buscava uma aventura. Até que um dia entramos numa lojinha de artesanatos. Essas pequenas lojas tem aos montes ali, mas de alguma forma, minha avó sentiu que essa era especial. Ela tinha dessas coisas. Do nada sentia. Também nunca entendi bem o que era isso.

Não é que eu não goste — ou respeite- esse tipo de loja, mas morro de medo delas. Parece que um simples espirro é capaz de quebrar tudo ali. Eu não sabia que prateleiras conseguiam aguentar tanta coisa entulhada até conhecer as lojinhas de artesanato de São Tomé das Letras. Minha mãe falava:

- Cuidado hein, não se mexa muito! — e eu levava isso extremamente a sério. Ficava imóvel, e como disse, morrendo de medo de quebrar algo.

Até que minha avó chegou toda emocionada, com os olhos brilhando mais do que um aglomerado de estrelas cadentes.

-Olhem isso, não estou acreditando! — ela dizia com uma pedra enorme em suas mãos. Dava para sentir o peso do negócio só de olhar o movimento interno que a musculatura dos seus braços fazia, assim como a curvatura de sua coluna ao segurá-la.

-O que é isso vovó? — eu perguntei. Ah! A curiosidade dos 8 anos de idade…

-É uma turmalina negra! — ela disse esperando que alguém ali fosse entender alguma coisa.

-O que é uma turmalinda negra? — perguntei.

-Não é turmalinda, seu bobo. É turmaLINA. É uma pedra preciosa. É poderosíssima! O dono disse que é natural, que ele trouxe direto da cachoeira. E acreditem, está muito barata para o que é! — minha avó dizia, novamente com as estrelas cadentes em seus olhos.

Aquilo não fazia o menor sentido. Sempre pensei em pedras preciosas como diamantes, ou aquelas pedras roxas pontiagudas que brilham. Aquela tal de turmalina negra podia ser facilmente confundida com um pedaço de carvão. Eu falo sério, tinha até umas rachaduras, como se tivesse sido queimada.

-O que ela faz? — novamente, a curiosidade dos 8 anos de idade…

Minha avó pegou a minha mão e colocou na pedra. Era áspera e fria.

-Sinta ela. Perceba ela. — ela disse. Sentia que novamente ia começar todo aquele papo de “ele está no meio de nós” quando não tem ninguém no meio de nós, e que qualquer pergunta que eu fizesse iria ser respondida com algo extremamente abstrato que não fazia sentido nenhum. Então coloquei minhas mãos na pedra.

-Legal. — disse para não magoar a vovó e deixei para lá.

Minha avó morreu no ano seguinte. Câncer no fígado. Agora, mais velho, isso me faz pensar que talvez naquela lojinha de artesanatos ela já estivesse com câncer. Que enquanto minha avó tocava naquela pedra, dentro dela já poderiam existir células que a estavam matando gradualmente. Ou não. Nunca saberemos.

Porém, umas semanas ates de morrer, minha avó disse para mim que era minha missão cuidar bem daquela pedra. Que a tal da turmalina negra iria me proteger.

Nem com 9 anos de idade eu levei isso a sério. Mas mantive a pedra comigo. Estranhamente, era a lembrança que mais me fazia lembrar da minha avó. Parecia que quando encarava aquela pedra, minhas mãos retornavam diretamente a ela, assim como fora quando minha avó pediu para colocá-las na lojinha de artesanato, e eu conseguia enxergar as estrelas cadentes nos olhos dela novamente. Era uma sensação esquisita, que nenhum porta-retrato, roupa antiga, ou memória qualquer conseguiam transmitir.

A vida passou e me formei em medicina. Oncologista. Não sei se isso teve a ver com a morte de vovó. Mas certamente essa especialização está ligada com aquela curiosidade do menino de 8 anos de idade. O câncer: todo mundo sabe tudo e ninguém sabe nada. A doença dita sem cura. Mortal. Percebo que os mistérios da vida sempre foram alvo do meu interesse. Não significa que goste ou acredite nas explicações que às pessoas dão a eles, na verdade, acho isso tudo forçado, uma grande fantasia. Como Deus. Como a turmalina negra. Como o câncer.

Foi então, numa noite de quinta-feira, que finalmente o imprevisível aconteceu. Cheguei ao meu apartamento após o plantão, exausto, já tarde da noite. Não tinham passado nem 2 meses que tinha alugado aquele apartamento. Não era um apartamento tão bem cuidado ou agradável, mas era mais cômodo porque estava próximo ao hospital do plantão que trabalhava.

Foi tudo muito rápido. Não saberia descrever com detalhes, nem saberia dizer como me senti naquele 1 minuto significativo. Antes mesmo de rodar a chave na fechadura, fui abraçado por trás pelo pescoço. Acho que abraço não é a palavra mais adequada para isso, se tratando de uma tentativa de enforcamento.

Joguei toda a força do meu corpo para trás, ainda atordoado e com a chave na mão. O homem encapuzado se virou, me pegou com agressividade pelos ombros, próximo à região do pescoço e me jogou contra o armário do hall de entrada. Nisso tudo, deveriam ter se passado apenas uns 3 segundos. No quarto segundo o armário balançou com a minha pancada brusca, e em cima dele, posicionada singelamente, estava a famosa turmalina negra, agora em queda. Toda a situação deve ter durado um total de 6 segundos. Mas a sensação que tive ao observar a queda daquela pedra foi de aproximadamente 8 anos. Era como se enxergasse a minha vida inteira passando até os meus 8 anos de idade, em São Tomé das Letras, naquela lojinha de artesanato. Os olhos cadentes da minha avó estavam mais fortes do que nunca, assim como meu medo, como aquele que tinha em me mexer e quebrar todos os itens da loja. Minhas mãos estavam frias, assim como quando toquei na turmalina negra pela primeira vez. Tudo passou em minha cabeça em um brevíssimo instante.

A pedra atingiu a cabeça do sujeito que me atacava, fazendo-o cair no chão imediatamente. Uma poça de sangue se formou em volta. Não encontrei a sua pulsação. O homem havia falecido ali, naquele instante.

Mais tarde, após toda a investigação e o trabalho da perícia — que me rendeu algumas noites prestando depoimento na delegacia — descobrimos que o pobre do sujeito nada tinha a ver com essa história. Aparentemente o dono do apartamento que eu alugava estava se metendo com gente que nossa mãe não diria para nos metermos. O sujeito que invadiu o prédio, era então uma espécie de “assassino de aluguel”, cuja única missão naquela situação era me matar, ou melhor, matar o dono do apartamento.

Parece história de filme, ou daquelas que saem na Record à meia noite.

O homem estava armado. Tinha entrado pela janela do apartamento, que ficava no primeiro andar. Erro rude alugar um apartamento no primeiro andar de um bairro perigoso. Ao que parece, eu cheguei poucos segundos depois dele, o que fez com que o homem não tivesse tempo de se preparar e sacar a arma. Sua reação imediata foi me estrangular por trás e imobilizar. Como reagi, ele me jogou em direção ao armário. Bastava apenas um segundo para ele sacar a arma e mais outro segundo para ele atirar.

Se aquela pedra tivesse caído um segundo depois, essa história teria terminado com dois corpos mortos em um apartamento em vez de um.

— —

Se acredito no poder da turmalina negra? Não.

Se acredito — como a minha mãe tem certeza — que na verdade era o espírito da minha avó que estava na pedra e me salvou? Também não.

Mas, de alguma forma misteriosa, a “profecia” da minha avó se concretizou. A pedra de fato me protegeu. A palavra “imprevisível” e São Tomé das Letras finalmente cabiam na mesma frase. Quem sabe, até a professora da catequese estava certa e Deus estava no meio de nós naquele instante. Ou pelo menos no meio de mim, visto que o pobre do sujeito faleceu.

Coincidência ou mística? Vovó ou força da gravidade? Nunca saberemos.

Add a comment

Related posts:

Word Embedding using Python

In this post we will see how to generate word embedding’s and plot a chart for the corresponding words. First we need to get a paragraph or text for which we need to find the embeddings, I took a…

Hackers Could Purchase Enough Personal Information To Alter Voter Registration Files In 35 States

Harvard researchers have discovered a vulnerability on government websites that may let hackers and other malicious actors change your voter registration information and potentially cause chaos on…

Welcome to the New Era Network

New Era Network offers access to IDO in a safe and secure manner and service package for new project on different blockchain. In August 2021, we launched New Era Network, a decentralized…